Empreendedora Tahiana D'Egmont em entrevista ao Manhattan Connection

Manhattan Connection entrevista Tahiana D’Egmont

Setembro de 2015. Eu estava há uns 9 meses na Kickante, tinha entrado em dezembro de 2014, justamente pra tornar a empresa líder em crowdfunding e acelerar seu crescimento. Como parte da nossa estratégia de marketing e crescimento, tínhamos Assessoria de Imprensa, e eu sabia que o Manhattan Connection era um programa mega relevante, então ele estava na lista dos nossos desejados. Quando veio o convite, falei “claro, vou lá”.

Não fazia ideia de como era o programa na prática. Tá, eu sabia que ficava a tela dividida e tal, tinha alguma referência visual, mas nunca tinha assistido um episódio e não sabia da fama de ser um programa onde os caras “apertam” os entrevistados. Descobri isso só depois, quando todo mundo ficou me perguntando se eu não tinha ficado nervosa com as perguntas difíceis.

Que perguntas difíceis?

Lucas Mendes me perguntou de cara se crowdfunding “deu leite fácil” e eu respondi que fácil não foi, mas que a gente tinha crescido 900% no ano. Depois de quase um ano focando nisso, dava pra ver que a estratégia estava funcionando.

Ricardo Amorim fez a pergunta que eu sempre acho interessante: se no Brasil financiamento é um absurdo de caro, crowdfunding não deveria crescer mais aqui do que nos EUA? Claro que sim. Foi justamente por isso que eu tinha topado entrar na Kickante.

Quando você tem taxa de juros subindo, governo cortando benefício fiscal, Lei Rouanet mais difícil…crowdfunding vira saída natural. Não é rocket science.

Diogo Mainardi queria exemplos práticos. Adorei contar sobre a Bel Pesce que arrecadou 889 mil pra rodar o Brasil dando palestra de empreendedorismo. Ou aquele projeto interessante “Mecânica em Miniatura”: um cara fez motores de carro perfeitos em miniatura pra colecionador e captou 160 mil. Tem também o Guarddy GPS, um smartwatch brasileiro pros pais acompanharem onde o filho tá.

São coisas que funcionam. Projetos que saem da universidade e viram produto real. É isso que me empolga no crowdfunding, ver talento brasileiro chegando no consumidor final.

Aí o Ricardo soltou a bomba: “e se os petistas quiserem arrecadar pro Zé Dirceu pagar advogado?” Todo mundo riu, mas a pergunta era séria. Falei que a gente não aceita esse tipo de coisa. Não é por posição política, é estratégia mesmo. Sem lei específica sobre isso, melhor manter a plataforma longe de eventuais problemas.

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Saí de lá achando que tinha sido uma conversa normal. Depois descobri que o pessoal esperava que eu saísse “descascada” das perguntas. Mas como eu ia saber? Entrei lá sem expectativa nenhuma, então falei naturalmente sobre o que a gente fazia na Kickante, e deu super certo!

Acho que foi melhor assim. Quando você não sabe que “deveria” estar nervosa, acaba sendo mais você mesma. Sem roteiro, sem preparação excessiva, sem medo de falar bobagem. E, claro, tenho anos de experiência dando entrevistas, o que ajuda bastante.

No final das contas, virou uma das conversas mais genuínas que tive sobre crowdfunding naquela época. Talvez porque eu não sabia que tinha que performar. Só explicar mesmo.

Assista à entrevista completa

Transcript

Lucas Mendes: Tahiana D’Egmont assumiu a direção da Kickante em janeiro desse ano e logo quicou nas redes. A Tahiana triplicou o faturamento da empresa, que arrecada fundos pela internet. Ô Tahiana, bem-vinda

Tahiana D’Egmont: Obrigada

Lucas Mendes: Um prazer ter você aqui. Crowdfunding é a vaquinha digital, que a gente nem sabe se tá falando, se é isso mesmo, há 6 anos. Ela deu leite fácil?

Tahiana D’Egmont: Fácil não, é bastante trabalho para que ela dê esse leite, mas os resultados têm sido realmente bem expressivos o crescimento do desse ano em relação ao ano passado já tá em quase 1000% e a

Tahiana D’Egmont: gente ainda nem acabou o ano, né, então com certeza tá dando mais leite

Lucas Mendes: Agora o Brasil, aqui nos Estados Unidos dá 10 Bilhões de Dólares por ano, mas muita gente manda dinheiro porque pode deduzir do imposto de renda. No Brasil, qual é a vantagem de eu mandar dinheiro para você?

Tahiana D’Egmont: Então, a expectativa do mercado mundial de crowdfunding esse ano no mundo é de 35 bilhões, chegando a 90 em 2017, já é algo bem significativo em escala Global. As motivações – porque o crowdfunding ele não serve só para doação pro terceiro setor,

Tahiana D’Egmont: que se enquadraria mais nessa questão que que você mencionou de abater imposto, né? Ele tem muito a ver com com as recompensas que a pessoa recebe em troca de contribuir, então muitas das contribuições são também para campanhas de inovação, produtos produtos inexistentes no mercado, que quando você faz, é como se você estivesse fazendo uma pré-compra. Você ajuda a financiar o projeto antes mesmo daquele produto acontecer. Ele tá em fase de protótipo ou ele é um MVP, que a gente chama que é um minimum viable product e você tá

Tahiana D’Egmont: ajudando a tirar ele do papel, e por fazer isso você já recebe o produto final antes dele ir pro mercado com um benefício maior, por exemplo, um preço menor ou kits exclusivos, uma versão diferente, então acaba sendo muito mais por isso que as pessoas contribuem, pelas recompensas que elas vão receber, até por isso acaba sendo diferente do conceito de vaquinha, porque a vaquinha realmente as pessoas estão se juntando puramente pela questão financeira mas no crowdfunding você sempre recebe uma recompensa em troca da sua contribuição

Tahiana D’Egmont: para aquele projeto.

Lucas Mendes: Não, a vaquinha também você pode chamar cinco amigos fazer uma vaquinha, comprar um carro. Tem um retorno.

Tahiana D’Egmont: Pode, pode sim dividir o carro.

Lucas Mendes: Diga, Ricardo, entra na conversa!

Tahiana D’Egmont: Tava ouvindo você, Lucas, e tava pensando: você, como mineiro, devia ser o primeiro a saber que vaca não dá leite, você tem que tirar dela, e é exatamente o que o que é feito aqui. Especificamente, Tahiana, a minha a minha dúvida é o seguinte: no Brasil, um lugar onde o financiamento é tão caro, deveria ter, o espaço pro crescimento do crowdfunding devia ser

Ricardo Amorim: ainda maior do que em outros lugares, em particular hoje na Europa e no Estados Unidos, que há fontes de financiamento muito mais baratas e muito mais amplas.

Tahiana D’Egmont: Sim.

Ricardo Amorim: É razoável imaginar, até porque hoje ainda é muito pequeno, que o crescimento no Brasil nos próximos anos deve ser muito maior do que no resto do mundo?

Tahiana D’Egmont: Sim, é justamente nisso que eu acredito, né? Até por isso eu aceitei o desafio de ser CEO da Kickante, porque eu acredito nesse potencial de crescimento absurdo e mais acelerado, é, no mundo ele tá crescendo, ele tá dobrando a cada ano. Eu acredito que no Brasil, até pelos nossos próprios resultados, você vê 900% esse ano em relação ao ano passado, vai ser muito maior, porque é um país muito mais carente de fontes de recursos, e muito mais burocrático para certos tipos de acesso ao capital, então eu vejo muito o financiamento coletivo como uma democratização maior do acesso a esse capital. Então quando você tem taxa de juro subindo, como tá acontecendo agora, o governo retirando alguns benefícios fiscais etc, que ajuda alguns segmentos que a gente atende como ONGs, como artistas que às vezes dependem de Lei Rouanet, e outros tipos de fontes de recurso, acaba que pra gente tá acelerando ainda mais. O crowdfunding acaba sendo a melhor saída pra essas pessoas arrecadarem recursos hoje em dia.

Caio Blinder: Tahiana, você acha que o futuro do desse método é mais o altruísmo, ou fiz lucrativos? Eu queria saber quais são os filtros que você tem para aceitar projetos, tem aquelas histórias nos Estados Unidos, a pessoa tomou o golpe do motorista do Uber, que de repente eram 400 dólares, que tinha que pagar e pela corrida do Uber e aí resolveu fazer um crowdfunding para ser reembolsada pelos amigos. Esse tipo de coisa te comove, você acha que tem que ter um filtro rigoroso?

Tahiana D’Egmont: Olha, a gente é bem democrático nos tipos de projetos que a gente aceita na plataforma. Existem projetos que são projetos que têm um cunho pessoal maior, é, projetos como por exemplo alguém, uma uma menina, a gente teve um caso de uma menininha de 3 anos, ela nasceu sem o braço ela precisava de uma prótese nos Estados Unidos, e ela arrecadou quase 160 mil através da plataforma para fazer essa prótese. A gente não tira esse tipo de projeto, o que a gente sempre checa é a a credibilidade dele, então a gente entra em contato, entende a história, pede comprovação em alguns casos, mas a própria rede cuida muito disso, né, quando é uma campanha que que ela não existe de fato, que não tem um fundamento, ninguém ninguém contribui porque as pessoas sabem quem é o criador da campanha, tem todas as redes sociais da pessoa. Em geral as contribuições começam pela rede mais próxima do da pessoa que criou a campanha, então, assim, começa muito pelos familiares, pelos amigos, pelos contatos profissionais, pelas pessoas que já tem um interesse prévio naquele produto, ou naquele serviço, ou naquela causa e depois disso é que elas se expandem, porque os outros contribuidores quando simplesmente entram na plataforma para procurar, eles procuram checar justamente projetos que já tiveram contribuição, que já tem um um tráfego de acesso, de contribuidores, e de volume financeiro maior. Isso traz, isso traz mais credibilidade pra campanha e torna a campanha um sucesso ainda maior. Agora, se o futuro é altruísmo ou é mais comercial, eu acho que é uma combinação das duas coisas, né? Nos Estados Unidos você já vê o equity crowdfunding, que é um outro tipo de de crowdfunding, onde você passa a ter uma participação acionária. Foi algo que ficou sendo discutido bastante tempo lá também até ser aprovado e que aqui no Brasil a gente faz parte de um grupo que discute isso com a CVM e ainda não tem uma legislação local a respeito.

Mas se a gente pensar nisso como um futuro também, acaba tendo uma conotação comercial maior, apesar de hoje em dia 30% das campanhas que a gente tem na plataforma sejam campanhas de causas, de ONGs, terceiro setor, causa ativismo, esse tipo de campanha.

Lucas Mendes: Ô Diogo, você que é um grande doador e investidor, conversa com a Tahiana.

Diogo Mainardi: Olha, quando a gente montou o nosso jornal online um monte de gente falou “faz crowdfunding” e na época eu disse “não, não é não é não é adequado para um, para um para uma um órgão de imprensa, pro jornalismo, mendigar dinheiro, ou pedir caridade. Essa ideia, por exemplo, que ela acabou de dizer, de equity crowdfunding, foi algo sobre o qual eu me me informei ou tentei me informar, porque esse sim é interessante. Você pode tornar seu seu seu colaborador, é, contribuinte em sócio, que receba dividendos, alguma coisa desse tipo, aí sim a coisa se torna interessante. Me conta dois ou três casos particularmente importantes na na empresa de vocês que não envolvam caridade, por favor, Tahiana.

Tahiana D’Egmont: Olha, o maior que a gente tem mesmo, é até o maior da América Latina de crowdfunding tem a ver com caridade, que foi o Santuário Animal, que a gente arrecadou mais de 1 milhão. É recente, a gente acabou de bater esse recorde, o recorde anterior já era nosso, que também, que não tem a ver com caridade, que foi de uma empreendedora chamada Bel Pesce, que ela escreveu um livro “A Menina do Vale”, e ela queria fazer um tour pelo Brasil levando palestras sobre empreendedorismo pras pessoas e ela captou 889 mil reais para fazer isso. É, a a gente já teve o caso de um projeto que eu particularmente achei muito legal, que foi o “Mecânica em Miniatura”, que foi um engenheiro que criou numa escala reduzida, para colecionador, um motor de carro super legal, que arrecadou em torno de 150, 160 mil reais, para viabilizar, e a gente tá com um hoje em dia na plataforma que é o “Guarddy GPS”, que é um smart watch com tecnologia nacional, ele é feito por brasileiros, que é para você, é, basicamente acompanhar seu filho, a localização que o seu filho tá, ele também tem batimento cardíaco, controle de sono etc e é assim um design super inovador é o tipo de coisa que você vê em plataformas internacionais e que estão começando a chegar no Brasil, então a tendência é que a gente tenha cada vez mais esses projetos de inovação, que eles comecem a sair só do meio acadêmico, porque o Brasil tem esse talento né, mas ele fica muito fechado dentro das Universidades, pelo que a gente vê, pelo que a gente acompanha, e que eles comecem a ir muito mais para uma escala comercial, onde eu e você tenhamos acesso, justamente através do crowdfunding porque o crowdfunding acaba tirando muito risco da pessoa que tá por trás desse projeto, porque ela coloca lá e testa o mercado, se as pessoas realmente pagam antes até do produto existir.

Ricardo Amorim: Tahiana, momento atual. Há exatamente um ano a gente teve várias contribuições de petistas pros mensaleiros, que precisavam pagar as multas. Isso pode entrar no seu no no seu projeto ou não? Ou o governo agora, tá precisando de dinheiro, pode ter uma coisa ajude o governo a pagar a dívida?

Tahiana D’Egmont: A gente normalmente não aceita esse tipo de projeto na plataforma.  O que nós temos são alguns projetos ligados à política no sentido de ativismo. Se a pessoa quer organizar uma passeata etc mas quando é extremamente ligado a um partido ou a um financiamento político, a gente conversa com a pessoa e e não deixa o projeto entrar no ar. Só porque não tem uma legislação

Lucas Mendes: Se não, levanta fundo para pagar tudo, você não não levanta fundo para pagar a conta do advogado.

Diogo Mainard: Do Zé Dirceu

Caio Blinder: Essa tá fora do projeto.

Tahiana D’Egmont: Não é nem que a gente não queira, é porque como não tem nenhum nenhum precedente em termos de legislação sobre isso, a gente faz mais para evitar mesmo que possa vir a ter alguma questão, então a gente é bem cuidadoso sobre isso, até para não não ferir a credibilidade da plataforma.

Lucas Mendes: Sábia decisão

Claro Blinder: Concordo.

Lucas Mendes: Tahiana, muito obrigado, parabéns! Você é uma CEO inovadora, num projeto bacana.

Tahiana D’Egmont: Obrigada.

Lucas Mendes: E boa sorte para você!

Tahiana D’Egmont: Obrigada.

Lucas Mendes: Muito obrigado pela presença.

Créditos

Programa: Manhattan Connection

Canal: Globo News

Data da exibição: 27/09/2015

Entrevistadores: Lucas Mendes, Ricardo Amorim, Caio Blinder e Diogo Mainardi.

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